As Forças Armadas Angolanas determinaram hoje que militares e polícias intensifiquem os patrulhamentos nos centros urbanos e suburbanos, “com vista à recolha do pessoal e viaturas militares e civis” que transgridam o estado de emergência. Está aí, para o que for preciso, a “prontidão combativa elevada”.
Em despacho, o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas, general António Egídio Santos “Disciplina”, determinou “prontidão combativa elevada” a todas as unidades, estabelecimentos e órgãos das Forças Armadas enquanto durar o estado de emergência no país.
“Prontidão combativa elevada”? Será preciso tanto para pôr em ordem quem transgrida o estado de emergência? Estão as FAA a contar que o pessoal vai aproveitar a Covid-19 para fazer um golpe de Estado? Teme o general “Disciplina” que o coronavírus seja uma espécie de Jonas Savimbi?
De acordo com o documento, a partir de hoje e até 12 de Abril, devem ser reforçadas as medidas de restrição da circulação do pessoal das Forças Armadas e de controlo epidemiológico à Covid-19.
A decisão visa que as Forças Armadas prestem o necessário auxílio às instituições civis do Estado, para a contenção da pandemia do novo coronavírus, que já regista em Angola cinco casos positivos.
O estado de emergência contempla medidas como “confinamento compulsivo da pessoa visada em domicílio próprio ou em estabelecimento de saúde indicado pelas autoridades públicas” e interdição das deslocações e da permanência na via pública que não sejam justificadas, à excepção do exercício de actividades profissionais, assistência médica e medicamentosa, abastecimento de bens ou serviços imprescindíveis.
Apesar do início do estado de emergência na sexta-feira, muitos cidadãos continuaram a sair à rua e a polícia já obrigou a encerrar alguns restaurantes que tinham clientes no interior, tendo os proprietários sido detidos.
No período de vigência do estado de emergência só poderão estar em funcionamento restaurantes que funcionem em regime de entrega ao domicílio ou ‘take away’.
A realização de treinos de Comando e Estados-Maiores do Exercito e Regiões Militares constitui matéria actualizada, sobretudo pelo momento histórico do país, afirmou em Agosto de 2019 o general Egídio de Sousa Santos. Tratava-se, disse o general que – recorde-se – colocou em Luanda as FAA também em “prontidão combativa elevada” durante o Congresso do MPLA, de preparação educativa-patriótica.
O comando das FAA e do Exército, em particular, tem promovido, nos últimos tempos, manobras tácticas para adequar a preparação das tropas, tendo em conta a melhoria da organização e o planeamento das actividades de preparação combativa, educativa-patriótica. O general “Disciplina” é mesmo um génio. Já estava a treinar as tropas para combater o Coronavírus.
Para o chefe do Estado-Maior General das FAA, que falava no encerramento do treino de Comando e Estado-Maior do Exercito na Região Militar Leste, tudo quanto faz parte de um conjunto de processos que compõe as técnicas e tácticas de um exército exige a observação de esforços.
“Os exercícios demonstram o que deve ser o procedimento em situação de combate real e moderno, concretamente no plano de defesa do território sob nossa jurisdição e preparar as tropas para o cumprimento das missões combativas posteriores”, disse o general. A Covid-19 não sabe com quem se meteu…
Essa de “preparar as tropas para o cumprimento das missões combativas posteriores”, é digna dos maiores generais da história mundial. Os generais “normais” seriam tentados, presume-se, a preparar as tropas para “missões combativas… anteriores”.
O general “Disciplina” exortou a tropa a prosseguir o esforço tendente ao aperfeiçoamento constante dos órgãos de comando e Estado Maior da Região Militar, na elaboração de documentos operativos e preparação de cálculos durante a realização do combate defensivo, melhoria do estudo das técnicas de combate, pois a vida é dinâmica e as técnicas de combate são variáveis.
Aos generais, comandantes e chefes apelou para o reforço da unidade, da coesão, fortalecimento e disciplinas entre os efectivos.
Enquanto chefe do Estado-Maior General adjunto das FAA, já em 2015 (sob a tutela presidencial de José Eduardo dos Santos e ministerial – da Defesa – de João Lourenço) o general Egídio de Sousa Santos “Disciplina” explicava tudo de forma patriótica.
Ou seja, disse-o na altura, devido à sua posição geoestratégica e às suas potencialidades em recursos naturais, Angola tem sido alvo de várias tentativas de desestabilização, nomeadamente com recurso “à desobediência e a desacatos às autoridades legalmente instituídas”. Já estaria a pensar no Coronavírus?
O general fez estas afirmações quando discursava na abertura do 6º curso de estratégia e arte destinado a oficiais generais e almirantes das Forças Armadas Angolanas.
Será então de concluir, ou não fosse o general Egídio de Sousa Santos “Disciplina” responsável pela “Educação Patriótica”, que todos aqueles que, internamente, teimam em pensar pela própria cabeça, se inserem nessa monumental e poderosa tentativa de desestabilização, eventualmente comprados pela Covid-19.
De acordo com o oficial general, neste “sentido deve-se prestar maior vigilância a estes cenários para não permitir que a paz duramente conquistada à custa do suor e sangue de muitos filhos da pátria seja perturbada”.
Está bem visto. Provavelmente todos os que não são do MPLA estavam, estão e estarão, a preparar um golpe de Estado e a preparar-se para a guerra, pondo a paz, “duramente conquistada à custa do suor e sangue de muitos filhos da pátria”, em causa. É isso, não é senhor general?
O curso de “de estratégia e arte” enquadrava-se nas perspectivas e estratégias de formação definidas pelo comando superior das Forças Armadas Angolanas e materializadas pelo Estado-Maior General por intermédio dos seus órgãos de ensino militar.
“Esta formação marca uma etapa importante no âmbito da implementação da directiva do Presidente da República e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas Angolanas, José Eduardo dos Santos, que prevê um conjunto de tarefas concretas na perspectiva «Angola 2020», nas quais se destaca a formação contínua dos quadros a todos os níveis como premissa fundamental para a modernização da instituição castrense”, explicou na altura o general “Disciplina”.
“Todavia, o sucesso de qualquer formação depende em última instância do engajamento efectivo que cada discente tiver no estudo das matérias que forem ministradas, além do factor coabitação entre docentes, discentes, conteúdo, métodos de ensino e aprendizagem”, afirmou o general Egídio de Sousa Santos “Disciplina”, justificando a cada vez maior necessidade de reeducar os angolanos.
Egídio de Sousa Santos “Disciplina” afirmou estar convicto de que as Forças Armadas Angolanas “estão no bom caminho no concernente à formação, produzindo valores que possam enobrecer as estruturas de ensino militar, a instituição castrense, e o país em geral no contexto interno e externo em última instância, o soldado que constitui a unidade de um todo que são as Forças Armadas Angolanas”. E se estavam no bom caminho com Eduardo dos Santos, melhor estarão com João Lourenço…
De facto o que graça pelo nosso País é, falando claro, uma incompetência generalizada para onde quer que olhemos. Ďefinitivamente não é com esta gente que vamos chegar a algum lado, a não ser irremediávelmente ao fundo sem apelo nem agravo.